segunda-feira, 30 de março de 2015

RESENHA: O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação

          
 
A capa da 1ª edição brasileira, sob o selo Alfaguara.

O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação é a obra mais recente do autor japonês Haruki Murakami publicada no Brasil. O livro de 328 páginas e capa peculiar vendeu um milhão de cópias no ano de lançamento (2013), e pode ser um bom primeiro contato com o escritor best-seller.

A narrativa gira em torno de Tsukuru Tazaki, um sujeito de 36 anos que vive em Tóquio e trabalha projetando e construindo estações de trem. Tsukuru leva uma vida simples, sem grandes ambições. Seu nome significa “Construir”, mas o sobrenome não tem um sentido especial. No passado, porém, existe uma história cheia de cores, nomes e um mistério não solucionado.

Envolvido em uma atividade voluntária nas férias de verão, quando ainda frequentava a escola na cidade de Nagoia, o jovem Tsukuru conheceu quatro novos amigos. Por acaso, eles continham nomes coloridos: Akamatsu, ou “pinheiro vermelho”, era um aluno brilhante; Ômi, ou “mar azul”, era atacante e capitão do time de rúgbi do colégio; Shirane, ou “raiz branca”, era bela e tocava o piano talentosamente; e por fim havia Kurono, ou “campo preto”, uma jovem independente, irônica, leitora ávida. Os cinco - Tsukuru, o incolor, Preta, Branca, Azul e Vermelho - permaneceram unidos por muitos anos. Eram inseparáveis, completavam-se. Até que um dia, misteriosamente, todos decidiram romper o vínculo com o protagonista, deixando-o solitário e sem respostas.

Pois bem... A história tem início em um encontro entre o "Construtor" e Sara, uma mulher dois anos mais velha que trabalha em uma agência de viagens. Ambos estão namorando há pouco tempo - não um namoro “à brasileira”, mas tímido e sutil como podemos esperar dos japoneses. Eles conversam longamente, ele revela um pouco de seu passado, ela se mostra interessada e bastante opinativa. No decorrer das semanas os jantares vão se repetindo, mais informações nos são transmitidas, e após uma certa insistência Sara convence Tsukuru a buscar os quatro coloridos, descobrir por qual motivo o haviam excluído do círculo de amizade, investigar o que haviam feito de suas vidas. Tem início então a peregrinação de Tsukuru, que sai à procura de Vermelho, Azul, Branca e Preta, sobre cujo destino ele jamais se informara.

O enredo, como já pude sentir em Após o anoitecer, é permeado de mistérios. Aos poucos são revelados aspectos obscuros dos personagens, suas motivações secretas, lembranças e memórias muito bem guardadas. Tsukuru é, talvez, ainda que incolor, o mais compreensível dos personagens. 

Há na narrativa, também, um toque de fantástico, situações inexplicáveis, pessoas misteriosas. Alguns comparam Murakami a Kafka... Eu nada sei, pouco conheço do escritor tcheco, mas, de fato, o japonês é um expert em contar histórias. Usa uma linguagem clara, constrói diálogos naturais e evita descrições exageradas. O ritmo, contrariando o que talvez alguns possam esperar de um oriental, não é lento, embora o plot seja tecido com precisão. E tudo ocorre ao som de jazz e música clássica (e até mesmo Tom Jobim!). 

O multicolorido Murakami. Foto de Elena Seibert/AP

É interessante frisar que o autor, hoje com 66 anos de idade, jamais pensara em ser escritor, até que um dia, enquanto assistia a um jogo de baseball (ele é fã do esporte), no momento de uma tacada, teve uma epifania: Deu-se conta de que poderia escrever um romance. Publicou seu primeiro livro em 1979, Hear the Wind Sing, ainda não disponível no Brasil. Hoje, tendo conquistado leitores no mundo todo, traduzido para mais de 50 línguas, dono de um estilo diferenciado, arrisco a dizer que, em alguns anos, Murakami será consagrado com o Nobel de Literatura.

Para quem ficou curioso, recomendo visitar o site oficial do escritor, bem como ouvir ao podcast 30:Min sobre Haruki Murakami. Claro, também, deixo a sugestão de leitura do próprio livro resenhado. Ainda não me aventurei na trilogia 1Q84, super badalada, cujo título serve de homenagem a George Orwell, mas talvez o futuro permita que tratemos do assunto. Aliás, falando em Orwell, ainda farei uma resenha sobre A revolução dos bichos. Aguardem!

              

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