terça-feira, 28 de abril de 2015

RESENHA: Cheiro de Goiaba - conversas de Gabriel García Márquez com Plinio Apuleyo Mendoza

A capa da sétima edição pela Editora Record

Em 17 de abril de 2015 completamos 365 dias sem Gabriel García Márquez (mas acho que ainda não me recuperei). Um dos meus escritores favoritos, o colombiano de Aracataca viveu 87 anos. Autor de trabalhos consagrados como Cem anos de solidão, Crônica de uma morte anunciada, O Amor nos tempos do cólera e Ninguém escreve ao Coronel, venceu o Prêmio Nobel em 1982 pelo conjunto da obra. Sua escrita é cheia de poesia e ternura; fala do Amor, da Solidão, da Pobreza e da Guerra, e reflete eventos da infância do artista e da história da América Latina. Mas é em Cheiro de Goiaba, obra não-ficcional, que o leitor mais curioso pode ter contato com o processo criativo do gênio.


Olha que cara de velhinho simpático :D
(crédito: AFP)


Cheiro de Goiaba, lançado em 1982, agora em sua sétima edição pela Editora Record, é uma conversa entre amigos.  Em tópicos (capítulos), como "Origens", "O ofício", "A obra", "Política" e "Mulheres", García Márquez responde perguntas muito bem formuladas por Plinio Apuleyo Mendoza, também colombiano, escritor e jornalista. Íntimos, os conterrâneos se conheceram em um café na cidade de Bogotá, quando Gabriel ainda tinha vinte anos, e Plinio, dezesseis.

Já nas primeiras páginas do livro, em um breve trecho narrativo antes de iniciar a entrevista propriamente dita, lemos:

"A avó governava a casa, uma casa que depois ele recordaria como grande, antiga, com um pátio onde ardia nas noites de muito calor o aroma de um jasmineiro, e inúmeros quartos onde suspiravam às vezes os mortos. Para D. Tranquilina, cuja família provinha de Goajira, uma península de areais ardentes, de índios, contrabandistas e bruxos, não havia uma fronteira muito definida entre os mortos e os vivos." (p.11)

Não há como não relembrar de Ursula, a matriarca de Cem anos de solidão, e talvez de minha própria infância e avós. Aliás, em um trecho posterior, o escritor afirma: "Na realidade, Ursula é para mim a mulher ideal, no sentido de que é o paradigma da mulher essencial, tal como a imagino"Assim, intercalando a narração do passado com a entrevista (em diálogo), a história de Gabo vai sendo construída, e sua personalidade revelada aos poucos, permitindo que compreendamos melhor sua criação e o "ofício mais solitário do mundo", como ele mesmo diz.


García Márquez e Apuleyo em um café de Paris, em 1981,
um ano antes do lançamento de Cheiro de Goiaba.
(crédito ABC)

Descobri Cheiro de Goiaba enquanto estudava Gesto Inacabado, uma excelente obra a respeito do processo de criação artística (autoria de Cecília Almeida Salles). Imediatamente saí correndo atrás de um exemplar, precisava adentrar na mente do cara, saber os "porquês" e os "comos". Por coincidência, encomendei o livro na internet na mesma época em que o recebi de presente. E asseguro: após ler Cheiro de Goiaba, não somente aprendi lições indeléveis sobre a vida de escritor, mas também passei a admirar ainda mais o Sr. García Márquez como cidadão do mundo, jornalista, filho, marido, pai e amigo. Muito curioso, aliás, saber que tudo iniciou de forma descompromissada...

"Comecei a escrever por acaso, talvez só para demonstrar a um amigo que a minha geração era capaz de produzir escritores. Depois caí na armadilha de continuar escrevendo por prazer e depois na outra armadilha de que nada me agradava mais no mundo do que escrever." (p.37)

Enfim, após essa breve recomendação de leitura prazerosíssima (fundamental para quem já escreve ou quer escrever), deixo mais uma dica: "Gabo: Memórias de uma vida mágica", uma Graphic Novel trazida ao Brasil pela Editora Veneta. Nela, somos convidados a vivenciar alguns dos momentos mais importantes da vida de Gabriel García Márquez, um dos maiores nomes da literatura do século XX e alicerce do realismo mágico.


Trecho da HQ, em que Gabo e o avô caminham
por entre as famosas borboletas amarelas que seguiam
Maurício Babilônia em Cem anos de solidão. Bonito, não?


Fique agora com o trailer do filme "O Amor nos Tempos do Cólera", drama lançado em 2007, baseado no romance de 1985, e estrelado por Javier Bardem (as mulheres suspiram) e Fernanda Montenegro:



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